[IMPRIMIR]     [FECHAR]
EDIÇÃO 155 | Setembro 2008

Viagem Set' 2008

Entre dois amores

Paisagens incríveis, vinhos deliciosos, a Patagônia, o encanto de saber que Argentina e Chile são tão próximos e tão em conta. As maiores surpresas dos dois países para quem quer ir além de Buenos Aires e Santiago

Buenos Aires quase todo mundo já conhece e adora, e Santiago vai pelo mesmo caminho. Mas Argentina e Chile reservam outras delícias. No vizinho de porta, há bem mais que tango e parrillas. Ao explorar o país, você se surpreenderá com os bosques coloridos de Bariloche ou com a vida sem meios-termos da Patagônia. Quando enjoar do frio que paralisa as orelhas, reponha as energias no calor de uma estancia. Depois faça um tour pelas vinícolas de Mendoza e se farte com taças e mais taças de malbec, cabernet sauvignon, torrontés... Logo ao lado, o Chile, com sua louca geografia, é capaz de proporcionar de tudo um pouco nas quatro estações do ano. Quer frio em pleno verão? Vá até a outra metade da Patagônia e encare o gelo azul que ruge nas geleiras ou divirta-se esquiando no Valle Nevado. Quer calor no inverno? Percorra os meandros do Atacama ou descubra as lindas praias do Norte Chico. Tudo isso sem falar nos vinhos mundialmente reconhecidos e em outras tentações, como centollas, almejas e locos. Tá esperando o quê?

ARGENTINA

AS CORES DO NORTE

Pra começar sua viagem longe dos conterrâneos que costumam invadir outros destinos argentinos, vá para o norte do país. A distância da capital, as temperaturas extremas e o vento forte permanente mantiveram a região praticamente isolada por muito tempo. Hoje, porém, ela já começa a atrair viajantes de espírito desbravador, e você pode ser um deles.

Faça como a maioria dos forasteiros e inicie por Salta, a 1 600 quilômetros de Buenos Aires, entre o fim dos pampas e o início dos Andes. A arquitetura colonial é o que mais chama atenção na cidade. À noite, seu centro histórico fica lindo, todo iluminado e sem a multidão que circula por lá durante o dia. Observe como é bonita nesse horário a fachada do Convento de San Bernardo, onde só carmelitas podem entrar. Durante o dia, visite o Cabildo, antiga sede do governo municipal, atual Museo Histórico del Norte, e também a catedral erguida no século 19 para abrigar uma imagem da Virgen del Milagro – ela teria conseguido parar o terremoto que atingiu a região em 1642.

Em algum momento, prove o quitute oficial da cidade, a famosa empanada salteña. O molho suculento e a carne picada com faca, em vez de passada no moedor, são as principais características da iguaria. E justificam o seu apelido de “empanada piernas abertas”, que muitos turistas só entendem quando a primeira gota do recheio mancha suas roupas.

Os turistas mais corajosos costumam embarcar no impressionante Tren a Las Nubes, que faz jus ao nome. Essa colossal obra de engenharia, que concretou e concretizou a improvável façanha de atravessar a Cordilheira dos Andes, liga Salta ao altíssimo viaduto La Polvorilla, a 4 220 metros de altitude, e parece voar sobre pontes sem proteção – bem perto das nuvens.

Mesmo que o casario colonial imponente e a catedral cor-de-rosa da Plaza 9 de Julio justifiquem o apelido de “La Linda”, Salta é apenas uma base estratégica para conhecer o resto da região. Para ter uma boa noção do que é o norte argentino, seu roteiro precisa incluir as províncias vizinhas de Jujuy e Tucumán. A 103 quilômetros rumo norte, San Salvador de Jujuy é uma cidade alaranjada, bem movimentada e um tanto esculachada. Mas não se desaponte, pois é ali perto, no caminho para Tucumán, que ficam as maiores jóias da região: a Quebrada de Humahuaca e a Quebrada de Cafayate – dois vales esculpidos por rios formados de águas de degelo vindas da Cordilheira dos Andes. Parece improvável que o magro filete que você verá correr entre os rochedos vermelhos, verdes e acinzentados tenha sido responsável por lapidar aquela imensidão toda. O tempo e o vento também contribuíram para criar o quadro, que inclui, entre outras “esculturas”, uma concha acústica natural batizada de Anfiteatro.

Talvez pelo efeito do eco ou pela concentração dos ônibus de excursão, o Anfiteatro costuma reunir aqueles músicos com flauta, tambor e violão que parecem bolivianos ou peruanos. Mas eles são argentinos mesmo, de origem indígena. É que a região foi ocupada por povos pré-hispânicos desde 10000 a.C., e até hoje diversas etnias habitam pitorescos vilarejos ao longo do Vale do Rio Grande, aos pés das quebradas. O cenário é surreal, e o contato com o povo andino, mais ainda. Não se intimide com os olhares desconfiados, mas também não tente se esquivar de levar para casa os broches de lã que eles vendem a preço de banana.

A 180 quilômetros de Salta, a silenciosa Purmamarca é rodeada pelo Cerro de los Siete Colores, tem mercado de artesanato e igrejinha com belas pinturas. Lá, o vermelho das montanhas se mistura ao das paredes das casas e das ruas de terra. Tapetes e casacos de lã tecidos artesanalmente pelas comunidades indígenas que vivem ali acrescentam ainda mais colorido ao povoado atemporal.

Apenas 10 quilômetros depois fica Maimará – que para os incas significava o “lugar onde caem as estrelas”. Além de um fotogênico cemitério, a cidade abriga uma das mais lindas composições pictóricas do pedaço. É a cadeia de montanhas La Paleta del Pintor, cujo nome é bem apropriado à miscelânea de cores que exibe. Tente apreciar esse show da natureza durante o pôr-do-sol. Além de encantar os olhos, a policromia dessas elevações ajuda a identificar os períodos em que surgiram. As tonalidades azuis, verdes e violetas pertencem às rochas mais antigas, muito antes da formação dos Andes – quando o lugar ainda era mar –, enquanto os tons amarelos e laranjas são de períodos recentes.

Continuando mais um pouco, você chegará a Tilcara, a mais vibrante e artística das cidades da rota, sede de El Púcara – uma fortificação construída pelos índios omaguacas na época pré-colombiana. Além dos resquícios arqueológicos, a paisagem é dominada por impressionantes cactos milenares de até 6 metros de altura, os cardones.

A cidade de Humahuaca, que dá o nome à quebrada, fica a 40 quilômetros de Tilcara. Ali, tão interessante quanto suas ruelas de paralelepípedo e casas de barro é observar a população da etnia quíchua vendendo artesanato nas ruas. Dê uma olhada também na igreja em estilo colonial. Antes de seguir viagem, que inclui ainda minúsculos povoados, como Coctaca e suas misteriosas ruínas, experimente mascar folhas de coca. Elas ajudarão a minimizar o desconforto causado pelo ar rarefeito – tontura, enjôo, dor de cabeça – que provavelmente você sentirá ao cruzar a Puna de Jujuy, a 4 mil metros de altitude, para chegar a Salinas Grandes. E nesse enorme lago de 12 mil hectares, de onde se extrai sal, você vai querer se sentir em plena forma para caminhar sobre a superfície e ver os trabalhadores em ação.

Depois de explorar os vilarejos ao norte de Salta, desça 183 quilômetros até Cafayate, cidade que já faz parte da rota do turismo enológico argentino. A região, chamada de Valles Calchaquíes, tem vinhedos situados a mais de 1 700 metros do nível do mar, num lugar de pouca chuva e muito vento – uma feliz combinação de fatores que ajuda a prevenir pragas. Para provar taças e mais taças de bons tintos e brancos, percorra suas bodegas, que têm conquistado prestígio internacional graças à uva-símbolo torrontés, que produz vinhos brancos frutados.

OS SABORES DE MENDOZA

Principal região viticultora da Argentina, o mar de vinhedos da cidade de Mendoza e seus arredores já bastaria para tornar o lugar espetacular. Mas, como se fosse pouco, suas belas parreiras ainda estão emolduradas pela parede púrpura formada pelos Andes, que aponta seus picos nevados para o céu – e provoca descargas de adrenalina em sessões de rafting, trekking, escalada, rapel e esqui. É como se a região tivesse dupla personalidade. Mas curtir Mendoza é exatamente encontrar o equilíbrio entre essas maneiras tão opostas de se divertir, dosando aventura e pé na jaca e, literalmente, alternando água com vinho.

O centro nevrálgico da capital da província é a Plaza Independencia, onde começa o calçadão da Peatonal Sarmiento. São quatro quadras de lojas, cafés e restaurantes com mesinhas na calçada. Do outro lado da praça a rua muda de nome e vira um corredor de mansões que termina no pulmão da cidade: o Parque General San Martin – um milagre verde e fértil no meio do deserto. A razão para tanta exuberância é um sistema de irrigação que leva as águas do degelo da cordilheira a todas as árvores da cidade através de canaletas ao lado das calçadas.

Mas como Mendoza respira vinho, em qualquer esquina você depara com lojas e bares de vinhos, adegas, vinícolas. E, se prestar atenção ao circular pelas ruas, poderá ouvir grupos de turistas franceses, espanhóis, italianos, americanos... Gente que definitivamente não precisaria ter ido a tão longe para provar um bom vinho. Se o fizeram, é porque vale a pena.

A região é a mais importante produtora da América do Sul e responde por quase 70% da produção total da Argentina. De suas mais de 1 200 bodegas saem 11 milhões de hectolitros a cada ano. Muitas delas estão em Lujan de Cuyo e Maipú, a 15 minutos do centro de Mendoza. As visitas costumam ser gratuitas, mas pedem agendamento. Em cada uma delas você repetirá sempre o circuito plantações/tanques de fermentação/barris de carvalho. Por isso, se depois do terceiro tour tudo parecer meio repetitivo, sempre haverá o consolo do grand finale: a hora de provar os rótulos.

A Familia Zuccardi (Ruta Provincial 33, km 7,5, Maipú, 261/441-0000, familiazuccardi.com) é famosa por seu espírito de inovação – produziu o primeiro vinho orgânico da região, o Santa Julia Terra Organica, lançado em 2001. Ali, o enoturista não só observa mas também “brinca” de colher as uvas ou de podar os vinhedos, além de tomar café-da-manhã e almoçar.

Conhecer uma adega familiar pode ser bem interessante, e a Viña el Cerno (Carril Moreno, 631, Coquimbito, Maipú, 261/496-4929, elcerno.com.ar) tem esse perfil: produz apenas 9 mil garrafas por ano, e as uvas são separadas e prensadas à mão, em antigos amassadores de madeira. Um bom contraponto a essa visita é a Viniterra (Avenida Acceso Sur, km 17,5, Luján de Cuyo, 261/498-5888, viniterra.com.ar), maior e mais moderna, que produz centenas de milhares de garrafas por ano. Bem perto, na La Rural (Montecaseros, 2625, Coquimbito, Maipú, 261/497-2013), o melhor é o Museo del Vino, onde o acervo é toda a parafernália usada nos séculos passados para colher, processar e transformar a uva em bebida.

A bodega hors-concours do pedaço é a Catena Zapata (J. Cobos, Agrelo, Luján de Cuyo, 261/490-0214, catenawines.com), conhecida internacionalmente e ícone do crescente poderio argentino. O edifício em forma de pirâmide maia é uma atração à parte.

Também por ali fica a Alta Vista (Calle Algaza, 3972, Luján de Cuyo, 261/496-4684), que foi criada em 1997 por Jean-Michel Arcaute, duas vezes considerado o melhor enólogo do mundo. Bem perto, a Vistalba (Roque Saenz Peña, 3531, 261/498-9400, carlospulentawines.com) tem, além de ótimo restaurante que une a culinária mendocina a técnicas francesas, outro diferencial: uma sala subterrânea com paredes de vidro que permitem que o solo seja visto. E a Dolium (Ruta Provincial 15, km 30, Agrelo, Luján de Cuyo, 261/490-0200, dolium.com), batizada com o termo usado por gregos e romanos para designar o recipiente no qual se armazenava o vinho, é pequena, mas produz surpreendentes brancos. Fundamental também é a tradicionalíssima Escorihuela (Belgrano, 1188, Godoy Cruz, 261/424-2698, escorihuela.com), fundada em 1884 e que tem como principal atração o seu lindíssimo restaurante.

Quem ainda agüentar mais pode visitar a bodega Terraza de los Andes (Thames y Cochabamba, Perdriel, Luján de Cuyo, 261/488-0058, terrazasdelosandes.com), que pertence ao grupo LVMH, conhecido pelo champanhe Moët & Chandon. Apesar de modernizadas, suas instalações preservam a escolha de materiais da construção original, de 1898, erguida com ladrilhos feitos com a terra local.

Ali perto, a bodega Fincas Patagónicas Tapiz (Ruta Provincial 15, km 32, Luján de Cuyo, 261/496-3433, fincaspatagonicas.com) é das poucas que deixam degustar, além dos vinhos engarrafados, aqueles que estão amadurecendo no barril. Então você compara com o da garrafa e sente na pele – no caso, na língua – que, quanto mais ele envelhece, menos ácido fica.

Na vinícola-butique Ruca Malén (Ruta Nacional 7, km 1 059, Agrelo, Luján de Cuyo, 261/410-6214, bodegarucamalen.com), a grande estrela é a comida. Pela janela do restaurante de quatro mesas, você vê o enquadramento inspirador de um gramado impecável, seguido por vinhedos e pelos picos da cordilheira. Para cada um dos cinco pratos do menu, o vinho certo. E, como as taças ficam na mesa, você pode provar várias combinações para ver que existem regras básicas, mas, afinal, tudo é uma questão de gosto.

Seguindo na direção sul por cerca de duas horas, no caminho para San Rafael, chega-se à localidade agrícola de Vista Flores, uma espécie de condomínio de vinicultores. Idealizado pelo enólogo-celebridade Michel Rolland, reúne sete grandes produtores franceses, como Dassault, Rotschild e Cuvelière. Ali se encontram os domínios do Clos de los Siete (Clodomiro Silva, Vista Flores, 261/425-688, clos7.com.ar), uma das chamadas bodegas-butiques que trouxeram para a Argentina o conceito de terroir, em que a origem das uvas é rigorosamente controlada e a fermentação acontece em tanques de aço inox, em substituição às piscinas de cimento.

Ainda nesse grande empreendimento, a mais nova bodega é a Cuvelier Los Andes (Clodomiro Silva, 261/405-5610, cuvelierlosandes.com), que tem uma bela arquitetura de adobe e conduz os visitantes por suas moderníssimas instalações enquanto um guia vai contando como o savoir-faire dos franceses está transformando (e melhorando) os vinhos argentinos.

O outro lado

Algumas horas de sono e doses de sal de frutas depois de descobrir Mendoza pelo paladar, dá pra encarar o “outro lado” da região. Uma das maneiras de descansar a cabeça de tanto vinho é fazer o passeio chamado Alta Montanha – de carro, embrenhando-se por 200 quilômetros entre os paredões andinos. Há duas opções para esse percurso: com emoção e com muita emoção. Se escolher a primeira, siga pela impecável Ruta 7, que passa por Potrerillos, uma vilazinha à beira de um lago, perfeita para fazer um piquenique. No caminho estão as estações de esqui Vallecitos e Los Penitentes e, já perto da fronteira, a Puente del Inca, uma incrível ponte natural de pedra sobre o Río Las Cuevas, dourada por causa dos sedimentos da água quente sulfurosa que brota ali.

Se for a opção que inclui frio na barriga, entre no coração dos Andes pela Ruta 52, ou Estrada de Villavicencio, que tem 360 curvas e é tão estreita que, em certos pontos, só há espaço para um único carro – sem nenhum centímetro de grade de proteção separando o caminho de penhascos de até 3 200 metros de altura. O ponto alto do percurso, nos dois sentidos, é a Cruz de Paramillos, de onde se pode ver todo o Valle de Villavicencio. É ali que aparece pela primeira vez o Aconcágua, a maior montanha do mundo fora do Himalaia. Vê-se direitinho seu cume de 6 962 metros. Alguns quilômetros adiante, o caminho desemboca em Uspallata, ponto de partida para trekkings que passam pelo Lago Horcones e chegam até um mirante de onde se vê a rota que leva ao pico. Quem não resistir à tentação e seguir viagem até o Parque Provincial Aconcágua pode caminhar pelo início da trilha que leva à sua base. Ao fazer isso, terá uma breve idéia da sensação dos alpinistas que começam ali a jornada ao topo: o vento ensurdecedor que quase impede o próximo passo e escarpas descomunais. O passeio ao Cordón del Plata, uma cadeia de montanhas menores que anuncia a gigante cordilheira, é uma opção mais light.

OS SONS DA PATAGÔNIA

É difícil falar em “uma” Patagônia. Não só por causa de sua enorme extensão como pela diversidade de ecossistemas. Sem mencionar o fato de ser compartilhada por dois países – duas metades separadas pelos Andes. Na Argentina, essa megarregião divide-se novamente em duas partes. Na primeira, montanhas, geleiras, florestas e lagos compõem o cenário da Patagônia Andina. Mas a paisagem muda completamente a leste, onde extensas e áridas planícies litorâneas formam a Patagônia Atlântica.

Uma parte da chamada Patagônia Andina é mais conhecida como a região dos Lagos Andinos. E a estrela desse quinhão no lado argentino é San Carlos de Bariloche, um sucesso longevo. Entre montanhas de cume sempre gelado e lagos de água transparente, no inverno a cidade costuma ser invadida por brasileiros, que lotam suas ruas com o mais descarado portunhol. Mas, quando a neve derrete, eles dão lugar a windsurfistas e trekkers. Sem a neve a dominar as encostas, é como se a montanha abrisse a guarda para incursões mais sensacionais ao coração da cordilheira, por terra, pela água ou pelas estradas que, no inverno, o gelo bloqueava.

Um dos sucessos estivais é o rafting no Rio Manso, que passa por um vale cercado de paredões verdes. Nos passeios por terra, não é preciso habilidade para ver de perto as geleiras negras, que só se descortinam nessa época. Elas são a cereja do bolo da excursão ao Cerro Tronador. Com 3 554 metros, a estradinha de uma pista que leva à sua base é feita de mil curvas. No caminho, as geleiras vão pintando a paisagem de branco até chegar ao mirante, que fica de cara com as enormes fendas na rocha muito escura, com uma capa branca no topo.

Península Valdés

Verdadeiro santuário ecológico, a Península Valdés é a melhor tradução da Patagônia Atlântica. Extensa (intermináveis 3 600 quilômetros quadrados) e pouco populosa, passear por ali ainda tem o gostinho de se percorrer trilhas inexploradas. Em suas longas estradas transitam animais da fauna patagônica, como a mara (roedor de pernas longas), o guanaco (que lembra o lhama) e o peludo (tatu com pêlo). A porta de entrada a essa interessante reserva animal, Patrimônio da Humanidade desde 1999, é o Istmo Ameghino, estreita faixa de terra que une a Península Valdés ao continente e tem uma das paisagens mais incríveis do pedaço: a visão simultânea dos golfos Nuevo e San José.

No início dos anos 1970, não se tinha notícia de baleias por ali. Depois que a caça a esses cetáceos foi proibida, começaram a aparecer nas águas do Golfo Nuevo, na costa sul. Hoje, a região tem nos gigantes mamíferos a sua principal atração. Mas não a única. Também é possível andar horas pelo Golfo San José sem cruzar ninguém, visitar as maiores pingüineiras do continente, ver de perto a vida selvagem de lobos-do-mar e elefantes-marinhos e ainda observar orcas e golfinhos. Além da pulsante vida animal, dá para descobrir planícies cobertas de fósseis, bosques petrificados e pinturas rupestres, atravessar um deserto de pedra e vento, mergulhar em um dos mares mais azuis do planeta ou ver o pôr-do-sol vermelho e amarelo que se reflete na superfície espelhada do golfo.

Entre junho e dezembro, quando as baleias-francas percorrem a costa sul da península, o vilarejo de Puerto Pirámides recebe até 5 mil turistas, que embarcam, todos os dias, em passeios para observá-las. Os visitantes costumam se hospedar em Puerto Madryn, a 100 quilômetros. Principal cidade da península, ali pipocam restaurantes, lojinhas e hotéis de primeira. No extremo leste, a zona conhecida como Punta Delgada é ideal para se sentir isolado da civilização e chegar mais perto dos elefantes-marinhos. Para nadar com lobos-marinhos, os principais pontos são Punta Loma e Punta Ameghino.

Prefere os pingüins? De setembro a abril, mais de 500 mil, da espécie de-magalhães, se reúnem em Punta Tombo. De Madryn, saem passeios de um dia para avistar suas colônias e conhecer um pouco mais a região, como as cidades de Gaiman, Trelew, Rawson e Playa Unión.

El Calafate

A cerca de mil quilômetros em linha reta, rumo ao sudoeste, fica El Calafate. Caso você viaje até lá por terra, não se desespere com o caminho, que é pura estepe. Mas a cidadezinha serve de consolo. Com 15 mil habitantes, tem o estilo “pré-fabricada para agradar turista” com seus hotéis, restaurantes, bares, cafés, lojas e muita madeira por todos os lados.

O destino, não à toa, vive em função do turismo, já que detém a maior beleza natural do país: uma coleção de glaciares de tirar o fôlego. Com uma superfície de gelo de 250 quilômetros quadrados, o Perito Moreno é o mais famoso e acessível. O passeio de um dia por esse trecho do Parque Nacional Los Glaciares inclui caminhadas pelas passarelas que ladeiam a borda sul da geleira. Em trekkings mais longos, dá para andar na superfície dessa impressionante geleira.

Mas, para ter uma visão ainda melhor, pegue o barco que chega a 200 metros do paredão branco. Dali você assiste de camarote ao lento espetáculo do seu movimento diário. Quando um bloco de gelo se desprende e despenca no lago, é acompanhado de forte estalo. Minutos depois, outro estrondo, dessa vez do gelo emergindo da água – nessa hora é bom lembrar que, como qualquer iceberg, a parte visível representa só 15% de seu tamanho. Repare também nas várias tonalidades do gelo, que muda de cor conforme envelhece: nasce branco e, com o tempo, vai ganhando nuanças de azul. Nenhum programa será tão impactante, mas você também pode caminhar ao longo do Lago Argentino ou navegar pelo Upsala para admirar os glaciares Upsala – o maior da América – e Spegazzini.

El Chaltén, a 230 quilômetros, é a meca do trekking argentino. Ali, o mesmo Parque Los Glaciares protege a seqüência de picos nevados que tem como destaque o Cerro Fitz Roy, de 3 405 metros, tão íngreme que nem a neve consegue se equilibrar por lá. Seu pico é o prêmio máximo da região para montanhistas.

Um programa menos cansativo, porém, vai exigir que você acorde cedo: ocasionalmente, por alguns segundos, assim que o sol desponta, as montanhas da cordilheira ganham um tom vermelho vivo – é o chamado amanecer de fuego. Tente ver, mas, se perder a hora, se contente com as reproduções estampadas em nove de cada dez cartões-postais locais.

Ushuaia

Para chegar a Ushuaia é preciso descer mais 900 quilômetros. Ao chegar, você entenderá plenamente a expressão “onde Judas perdeu as botas” ou terminará engrossando o coro dos que dizem que o fim do mundo é ali. A cidade mais austral do globo fica onde acaba o continente, e não há como seguir adiante – pelo menos por terra. Embrulhada em um cenário montanhoso de picos nevados quase em 360 graus clamando por escaladores e esquiadores, a chamada Tierra del Fuego tem o céu quase sempre nublado. Mesmo assim, seu porto vive cheio de navios que aguardam o dia de zarpar para cruzeiros pela Antártica. Como os passageiros querem conforto enquanto esperam, a cidade acabou virando um destino premium da hotelaria argentina.

Ali a estação de esqui de Cerro Castor atrai turistas, com a promessa de que, por lá, as emoções são bem mais intensas que o frio. Outras vedetes do pedaço são os centros invernais, como o de Las Cotorras, onde se pode contratar excursões de trenós puxados por cães.

Andar pelas trilhas do Parque Nacional da Terra do Fogo é outra diversão garantida. Repleto de bosques de lenga e turbales, que só existem em ambientes úmidos e frios, o parque tem registros arqueológicos dos yámanas, nativos que habitaram a região. Um jeito diferente de conhecer a reserva é a bordo do Trem do Fim do Mundo, que refaz o antigo trajeto dos prisioneiros da cidade, levados à floresta para cortar lenha.

As excursões de catamarã pelo Canal de Beagle, estreito que separa o continente do Arquipélago da Terra do Fogo, revelam fiordes, baías, ilhas e glaciares, além de leões-marinhos, pingüins-de-magalhães e outras aves que vivem ao redor dos faróis Les Éclaireurs e o do Fim do Mundo – o último da América do Sul.

CHILE

A MAGIA DO ATACAMA

O roteiro pelo Chile começa ao norte, no lugar mais árido do mundo. Se você achava que era o Saara, errou. Imensos trechos do Atacama fazem o deserto africano parecer um oásis. Mas não vá pensando que esse enorme descampado chileno é um mar de areia sem fim. Nos seus quase 200 mil quilômetros quadrados, além de montanhas de rocha e dunas gigantescas, há lagoas, animais selvagens, vulcões e gêiseres que dão cor à mágica região.

O lugar que serve de base ao turismo é o povoado de San Pedro de Atacama. Fincado entre um grande salar e o altiplano andino, fica a quase 2 500 metros de altitude. Com infra-estrutura surpreendente para seu isolamento, o vilarejo tem hotéis cheios de mordomia, pousadas, campings, restaurantes, cibercafés e um ótimo museu de arqueologia – tudo para receber os milhares de turistas que se aventuram por lá. Ao chegar, não se assuste com a secura. Carregue sempre muita água e saiba que é graças à falta de umidade que você poderá observar a imensidão de constelações nas madrugadas atacamenhas.

O passeio pode começar pelo Salar de Atacama, uma vasta planície feita de cristais de sal que formam lagoas habitadas por ariscos flamingos cor-de-rosa e outras pequenas aves. As mais famosas são Chaxa e Cejas, de águas azuis cristalinas e salgadas de doer – você tenta mergulhar, mas o corpo não afunda. À primeira vista, o lugar lembra o fundo seco de um oceano, com crostas de sal de até 70 centímetros, cortantes como navalhas. Mas, conforme você entra no Soncor – o parque nacional dos flamingos –, percebe a beleza do lugar. Ali o vôo das exuberantes aves de plumagem rosa é o único movimento no quadro estático da planície. São centenas delas, que variam do rosado ao alaranjado conforme a idade e a incidência da luz.

Para tirar o sal do corpo siga por mais 40 quilômetros até as Termas de Puritama, um vale cortado por um rio de águas quentes que vem da base dos vulcões e corre por baixo da terra antes de desaguar nas piscinas cristalinas, escondidas em uma improvável fenda verde no terreno rochoso. Ricas em minerais, dizem que essas águas curam doenças reumáticas.

Não deixe de incluir na lista o Vale da Lua, o ponto onde a Cordilheira dos Andes se encontra com o deserto e forma uma coleção de imensas dunas, bizarras formações rochosas e mirantes de onde se avistam quilômetros e quilômetros de terras desabitadas. Muita gente acha que o lugar lembra a Lua, mas os cientistas garantem que é parecido mesmo é com Marte.

Um pouco mais longe, perto da fronteira com a Bolívia, a aventura que acontece a mais de 4 mil metros é a visita às Lagunas Altiplánicas, uma série de lagoas com águas azuis, verdes ou rosadas. No horizonte, um cordão de vulcões com cones perfeitos, cobertos de neve, parece ter saído dos livros de histórias infantis. No fim da rota, o imponente Vulcão Licancabur repousa entre os dois países.

A chave de ouro do roteiro atacamenho é a visita aos Gêiseres del Tatio, uma aventura que requer disposição, já que é preciso acordar às 4 da madrugada, viajar quase 100 quilômetros e subir a 4 300 metros de altitude por uma estrada péssima, sob um frio que pode atingir 30 graus negativos no inverno. Mas vale a pena. Você chegará ao maior campo de gêiseres do Hemisfério Sul já com o sol despontando no horizonte e assistirá à explosão de dezenas de violentos jatos de água escaldante e vapor, criando um colorido fantástico.

Depois de tudo isso, você entenderá por que ir ao Atacama não tem nada a ver com fazer turismo. O vento, o sol, o sal e os contrastes de temperatura e altitude podem até ferir o corpo, mas o efeito que têm na alma é bem mais profundo.

OS ENCANTOS DO NORTE CHICO

Ao sul do Atacama, o Norte Chico é uma das cinco regiões naturais do Chile. Ali a Ruta 5 parece uma reta infinita que avança rente ao litoral. De um lado, sempre o azul-marinho do Pacífico. Do outro, vales verdes dos rios que descem dos Andes se alternam com zonas ressecadas, monocromáticas, nos lembrando de que estamos perto do deserto.

Graças ao clima seco e aos terrenos semiplanos, os quase 900 quilômetros de estradas de terra do litoral entre Antofagasta e La Serena são transitáveis o ano todo. Mas não há nenhum sinal de vida humana ou posto de gasolina em muitos trechos – por isso é preciso planejar bem o roteiro. Aqueles que o fazem não se arrependem com o que recebem em troca: um céu imaculadamente azul, noites inacreditavelmente estreladas e praias de cair o queixo.

No Parque Nacional Pan de Azúcar, o ambiente já não parece tão inóspito. Em seus 50 quilômetros de costa, há mais de dez ilhas rochosas e montanhas de 800 metros. Do alto da pequena Colina de Las Lomitas, no coração da reserva, dá para ver boa extensão do litoral. Também é possível visitar a ilha que dá nome ao parque, refúgio de pingüins-de-humboldt. O trajeto, feito em lancha, é “escoltado” por focas.

De volta à Ruta 5, um desvio na altura do povoado de Caldera leva à Bahía Inglesa. Depois de seguir por alguns minutos pela estradinha, vem a surpresa: uma praia cor de talco e o Pacífico fazendo concessão e trocando o azul-marinho pelo turquesa. Nos fins de semana, as três pequenas praias do povoado, conhecidas como Las Piscinas, ficam cheias de guarda-sóis, famílias e crianças. Mas a farofa dura pouco e, na segunda-feira, tudo volta ao normal. A dica ali perto é visitar a Playa La Virgen, onde a areia vai ficando cada vez mais branca e fofa à medida que se aproxima do mar.

A partir desse ponto, a Ruta 5 afasta-se da costa e corta o país em uma reta de 180 quilômetros até Domeyko. De lá, por um acesso de terra, chega-se a Punta Choros, praia onde windsurfistas e kitesurfistas se aventuram o ano todo, aproveitando o vento constante. Ali, a Isla Damas é um destino popular para casais e aventureiros que costumam pagar aos barqueiros para deixá-los num dia e buscá-los no outro.

OS AROMAS DO VALE DO COLCHAGUA

No Vale do Colchagua, região espremida entre o Oceano Pacífico e a Cordilheira dos Andes, o terroir é favorecido por um clima perfeito para parreiras: pouca chuva, uma brisa do mar que permite a maturação mais lenta da uva e grande variação de temperatura – muito calor de dia e frio à noite. Acrescente um cenário bucólico com crianças jogando bola e refrescando-se do calor de 35ºC na fonte, senhoras bordando por detrás das janelas de belos casarões e o movimento dos caubóis locais, os huasos – de roupa de couro e chapéu de aba larga –, que passam montados em seus cavalos em direção à estrada. Acima, um céu azul imenso. E lá longe, ao fundo, delineando os quilômetros de tapete verde dos vinhedos, o branco cândido das montanhas da cordilheira.

Ao todo, o Vale do Colchagua reúne mais de 30 vinícolas, das pequenas às grandes. A maior parte delas faz parte da Ruta del Vino, uma organização turística criada por esses jovens empresários para divulgar o Colchagua no exterior. E tem dado certo. Misturando qualidade com boa dose de marketing, a região foi considerada em 2005 a melhor para vinhos em todo o mundo – prêmio conferido pela revista especializada americana Wine Enthusiast. Foi a primeira vitória de um país sul-americano, superando Médoc, na França, Priorato, na Espanha, Prosseco, na Itália, e Santa Bárbara, na Califórnia.

“Vem tanto brasileiro por aqui que estou até aprendendo português”, brinca, num portunhol carregado, Carla, recepcionista da Casa Silva (Hijuela Norte, Angostura, San Fernando, 72/710-204, casasilva.cl), um antigo vinhedo que hoje também funciona como hotel-butique para quem deseja beber no jantar sem se preo-cupar em dirigir logo depois. Segundo ela, de cada dez turistas que visitam a vinícola sete são brasileiros. Na lojinha da Casa Silva, que vende todos os vinhos de fabricação própria a preços até 50% mais baixos que nas adegas de Santiago, é difícil não encontrar um conterrâneo fazendo compras. Também é quase impossível resistir ao apelo de um vinho de qualidade excelente com custo até três vezes menor que no Brasil. E isso se repete em quase todas as vinícolas do Colchagua.

A região é melhor quando degustada a dois – proporciona uma perfeita viagem de lua-de-mel. Mas, para amigos que curtem vinho, é uma excelente versão sul-americana do filme Sideways (Entre Umas e Outras, em português), em cuja história dois amigos percorrem de carro os vinhedos da Califórnia em busca de mulheres, risadas e vinhos pinot noir. No Chile, a uva carmenère faz mais sucesso que a pinot noir, mas o visual e a curtição são tão bacanas quanto os dos Estados Unidos – as estradas são lindas, quase sempre rodeadas de árvores e parreirais, além de seguras e bem sinalizadas.

Os passeios aos vinhedos são o prato principal de um dia no vale. Em geral, as visitas começam pelos parreirais. É no meio da plantação que você descobrirá a história das uvas carmenère, que se tornaram um símbolo do Chile, já que só existem lá. O passeio seguirá pelos tanques de aço inoxidável, em que o vinho é fermentado, e depois pelas salas onde adormece por anos em barris de carvalho francês.

Por alguns milhares de pesos a mais (calma, são cerca de 10 dólares, em geral), chega, enfim, a parte mais esperada do tour: a degustação. Para enólogos ou iniciantes nesse universo etílico, costuma ser um programa imperdível. Além de aprender os macetes para degustar melhor o vinho (como buscar notas de amora naquele cabernet sauvignon), você acaba conhecendo também as dicas de cada produtora, e um pouco de harmonização – técnicas para combinar a bebida com a comida. Se estiver na segunda ou terceira degustação do dia, tome bastante água ou pare para almoçar num dos restaurantes. O da Viu Manent (Carretera del Viño, km 37, Cunaco, 72/858-350, viuma nent.cl) e o da Casa Silva são excelentes e têm preços justos. Já o da Casa Lapostolle (Carretera del Viño, km 36, Cunaquito, 72/858-281, casalapostolle.com) é tão exclusivo e caro quanto o hotel – um jantar sai por cerca de 100 dólares por pessoa ou mais caso se escolha um dos vinhos tops da casa.

Para entender o que se passa por aqui é preciso se embrenhar pela estradinha que leva às Montanhas de Apalta, uma espécie de bairro do Colchagua que abriga, além da Lapostelle, outra “revolucionária” vinícola do Chile: a Montes (La Finca de Apalta, km 6,6, Millahue de Apalta, 72/825-417, monteswines.com). Ao longo dos últimos dez anos, elas conquistaram o respeito dos enólogos mais exigentes do mundo, ganharam competições internacionais e levaram suas garrafas a patamares de qualidade e preço nunca antes sonhados por vinhos sul-americanos.

Na Casa Lapostolle, a mais curiosa expressão dessa mudança fica justamente na sala nobre da bodega: os vinhos premium dormem em barricas de carvalho francês ao som de cânticos gregorianos. Isso mesmo: música 24 horas por dia, na penumbra da adega. Parece exagero? Coisa de quem faz bochechos de vinho e, no fim, diz que sentiu notas de baunilha? Para uns, sim. Mas, para os produtores, “faz toda a diferença”, diz Diego Urra, um dos coordenadores da visitação. “Quem toma o nosso vinho sente a harmonia com que foi feito”, completa ele.

No caso da Montes, também superpremiada internacionalmente, há uma energia que mistura feng shui com idéias hippies. Parece confuso? Talvez, mas o resultado são alguns dos melhores vinhos sul-americanos, como o Montes Alpha, o Folly e o Purple Angel. Essa mistura de ideologias, explica seu fundador, o enólogo Aurélio Montes, surgiu quase por acaso. Seu sócio, Douglas Murray, sempre foi “meio hippie, com idéias da época do Woodstock”. “Ele escapou da morte em dois acidentes graves, e diz que foi por causa da proteção dos anjos [isso explica por que eles aparecem no rótulo dos vinhos da casa]. O episódio deixou-o muito espiritualizado. Quando decidimos erguer a nova bodega, ele pediu que a construção fosse feita de acordo com o feng shui para termos a energia da natureza em harmonia. No começo, duvidei. Mas admito que o resultado foi ótimo.”

Uma forma divertida de conhecer o Vale do Colchagua é embarcar no Trem do Vinho, que parte de San Fernando, a 104 quilômetros de Santiago. A locomotiva é antiga, porém impecável e charmosa, estilo maria-fumaça. Além disso, tem um serviço de bordo excelente. A paisagem quanto mais se avança em direção ao sul de Santiago melhor fica. Na estação de Santa Cruz, após ter percorrido um lindo trecho da região, um grupo folclórico formado por crianças recebe os passageiros com uma dança típica, a cueca. De lá, saem ônibus em direção a diferentes vinícolas. Uma época boa para fazer o passeio é fevereiro, tanto pela temperatura agradável quanto por ser o mês que antecede a vendímia: os vinhedos ainda estão carregados e as vinícolas trabalham a todo vapor. Ao fim do dia, o retorno a Santiago ou a San Fernando é feito em ônibus.

(FÁBIO NEGRÃO)

A BELEZA DA OUTRA PATAGÔNIA

Como a Argentina, o Chile também tem sua parte nos Lagos Andinos, e um dos hits desse pedaço é Pucón, que figura entre as paisagens mais lindas do país. Mas a cidade conta com um componente adicional de adrenalina: o Vulcão Villarrica, que nos meses mais quentes atrai turistas dos quatro cantos que vêm escalar até sua cratera acesa. Com inclinação suave, a trilha até o cume segue em ziguezague pelo Parque Nacional Villarrica e leva cerca de cinco horas.

Só isso não justificaria a fama de “capital dos esportes de aventura e atividades ao ar livre” de Pucón. Durante o verão, também dá pra enfrentar as corredeiras do Rio Trancura, passear de caiaque nas águas tranqüilas do Lago Calafquén, cavalgar no bosque de El Cañi, fazer caminhadas e trekking no Parque Nacional Huerquehue ou esfriar a cabeça esquentando o corpo nas Termas Geométricas, que ficam dentro do Parque Nacional Villarrica.

Pucón pode estar no coração dos Lagos Andinos, mas a principal porta de entrada à região é Puerto Montt. A grande pedida ali é fazer a travessia dos lagos, que dura um dia e gera um deslumbramento atrás do outro. Você cruza o Lago Todos los Santos, que também é chamado de Esmeralda por causa do tom de suas águas, e passa ao largo dos vulcões Calbuco e Pontiagudo. Também consegue ver o Cerro Tronador antes de chegar a outra ponta, onde está Bariloche, na Argentina, e uma nova região de lagos a explorar.

Ilha de Chiloé

Quem, em vez de atravessar os lagos rumo à fronteira, se vira em direção ao sudoeste, chega ao povoado de Pargua. E, ao embarcar na balsa que faz o trajeto até a Ilha de Chiloé, consegue, depois de “furar” a neblina que envolve a ilha, enxergar sua silhueta acidentada. Naturalmente isolada do continente, visitá-la é como entrar em um mundo em que o tempo parece passar mais devagar. Habitada desde o século 16 – sua capital, Castro, é a terceira cidade mais antiga do Chile –, a ilha preserva um lado selvagem e esquivo que não mudou com o tempo. A paisagem de sua floresta austral, com bosques fechados de árvores altas e frondosas que coam a passagem da luz do sol, ajuda a imprimir ao lugar um aspecto agreste.

Mas o que também chama atenção em Chiloé é o seu conjunto arquitetônico do século 19, declarado Patrimônio da Humanidade nos anos 80. A partir da cidade de Ancud, pontuando a costa leste da ilha, igrejas revestidas de pequenas pranchas de madeira sobrepostas se distribuem pelos povoados. Em torno delas, coloridas casas sobre palafitas – um jeito esperto de aproveitar o terreno da costa, diariamente invadido pelo mar – compõem um conjunto arcaico e parecem exorcizar o lado sombrio da ilha que as nuvens insistem em cobrir.

Os mapuches já habitavam o lugar muito antes da chegada dos missionários espanhóis, e deixaram traços marcantes na culinária local, como o curanto, o ícone máximo da gastronomia de Chiloé. Também são parte da herança mapuche algumas lendas curiosas que se ouvem por toda parte, assim como o artesanato que produz belos tapetes e cobertores de lã tecidos à mão. A derradeira beleza da ilha é a vista, quando o tempo o permite, da linha contínua dos Andes e de seus picos nevados. Para o sul ou para o norte, é do mar que melhor se percebe a cordilheira de vulcões do continente. E é com essa imagem que os visitantes se despedem de Chiloé quando a balsa os traz de volta ao resto da Patagônia chilena.

Torres del Paine

O Parque Nacional de Torres del Paine, a 3 450 quilômetros ao sul de Santiago, é uma das grandes surpresas da metade chilena desse quinhão. Sua principal atração é o maciço montanhoso de granito – uma cordilheira circular com lagos, cachoeiras, pampas, geleiras e bosques de carvalho, povoada por criaturas extraordinárias, como os ñandus, uma espécie de ema patagônica. Também chamada de “Alasca em miniatura”, a Cordilheira Paine é bem mais jovem que os Andes, daí sua forma tosca e imponente, ainda poupada da erosão.

Para desbravar essa arca de Noé encalhada nas águas frias do extremo sul do Chile não é preciso ter, obrigatoriamente, espírito aventureiro. Na cidade-base do passeio, Puerto Natales, a infra-estrutura é boa e inclui até hotel cinco-estrelas. E, dentro do parque, há caminhadas para todos os preparos físicos – desde um bate-e-volta de quatro horas ao mirante das chamadas Torres, até a volta completa pela Cordilheira Paine, que consome sete dias e muita energia.

Mas o entorno de Puerto Natales tem mais possibilidades, como mergulhar na cultura gaúcha se hospedando alguns dias no calor de uma estancia, onde você comerá o melhor cabrito assado da sua vida. Ou participando de caminhadas e cavalgadas que podem ter várias durações – de meio dia a travessias de mais de uma semana.

Uma atividade que garante doses massivas de adrenalina é a Trilha dos Alacalufes. A excursão parte do cais de pescadores de Puerto Natales, cruza o canal e desembarca na Península Antonio Varas, um território quase desabitado. Dali em diante são mais 40 quilômetros de caminhada até a Baía Talcahuano, cruzando com bosques de lengas (o carvalho patagônico) e canelos, árvore sagrada dos nativos. Além de leões-marinhos, cormorões e patos silvestres – tudo isso sem vestígios de civilização.

E como vir até a Patagônia e não ver geleiras é tão absurdo como ir à Disney e não beijar o Mickey você precisa fazer pelo menos um passeio. Que pode ser de um dia, pelo Parque Nacional Balmaceda, ou mais completo, pelo Canal Las Montañas.

San Rafael

Conhecer a mais famosa geleira da Patagônia chilena, o Glaciar de San Rafael, é outra aventura possível. Ele fica na laguna de mesmo nome, ambos dentro do Parque Nacional Laguna San Rafael, aos pés do Campo de Gelo Norte, isolado e solitário.

Não há caminho que leve diretamente até lá, já que a topografia da Cordilheira dos Andes é um grande obstáculo nessa parte do continente. Uma das formas de chegar ali é no catamarã Patagônia Express, que parte do hotel Puyuhuapi Lodge & Spa, na Baía Dorita, e navega durante sete horas por canais e estreitos de águas tranqüilas, emolduradas por fiordes e vulcões. No caminho, os montes verdes vão aos poucos dando lugar a picos nevados, e blocos de gelo cada vez maiores começam a salpicar nas águas do canal. Conforme o catamarã se aproxima da laguna, sua velocidade diminui e surgem icebergs de formas e cores inusitadas – brancos, azuis, esverdeados, quase negros.

Mas o clímax acontece mesmo quando se enxerga o Glaciar de San Rafael pela primeira vez. Considerado um dos principais refrigeradores do planeta, sua enorme massa de gelo de 45 quilômetros de largura e 70 metros de altura se impõe, poderosa e assustadora como a natureza pode ser. O show prossegue com retumbantes estrondos que anunciam a queda de enormes blocos de gelo. Os pedaços recém-despencados, com formas que parecem grandes esculturas de cristal, adquirem cor de ardósia quando caem no mar.

Como o catamarã não pode se arriscar a ficar muito perto do paredão de gelo, pequenos grupos de passageiros descem em botes infláveis e chegam a poucos metros do glaciar, desviando de blocos do tamanho de casas. No fim do espetáculo, a embarcação faz meia-volta e, seis horas depois, retorna a Puerto Chacabuco.

Punta Arenas

De lá até a cidade mais populosa da Patagônia chilena, são cerca de 800 quilômetros. Capital turística da região de Magallanes, Punta Arenas também é base para explorar o Estreito de Magalhães, canal que margeia seu porto e conecta o Atlântico ao Pacífico. Até 1914, antes da abertura do Canal do Panamá, que uniu os dois oceanos no Hemisfério Norte, Punta Arenas era a principal ligação – e, por isso mesmo, um moderno centro comercial no extremo austral da América do Sul. Os tempos de glória se foram e hoje a cidade se contenta em ser o porto de partida para a maioria dos cruzeiros à Antártica, e por estar na rota de boa parte do transporte transoceânico internacional. Mas um título ainda não lhe foi tomado: o de ser a cidade mais austral do Chile, e só isso já vale a visita.

Viva o portunhol

O portunhol já foi visto de uma maneira tremendamente negativa no Brasil. Um jeito ignorante de se virar em espanhol. O símbolo disso era a imagem do ex-presidente Collor de Mello berrando na televisão, apoplético: “Duela a quien duela”. Depois o técnico Wanderley Luxemburgo, em sua rápida e fracassada passagem pelo Real Madrid, se encarregou de jogar a pá de cal. Mas o fato é o seguinte: o portunhol existe; não tem nada a ver com o Collor e o Luxa; é, sim, uma língua; e você pode se orgulhar de falá-la. “Na verdade, são várias línguas de fronteira, praticadas nas bordas do Brasil com os demais países da América do Sul”, diz Maite Celada, professora-doutora de espanhol da USP. Segundo ela, o brasileiro se apropriou da língua do vizinho – e a recíproca não vem na mesma medida. “Os argentinos, por exemplo, são mais cuidadosos, se arriscam menos”, afirma a portenha Maite, com seu leve sotaque. “O portunhol é uma arma absolutamente legítima de comunicação. Falando o idioma do outro, você se desloca e se transforma.”

O instinto de sobrevivência do brasileiro, o famoso jeitinho, contribui para a nossa capacidade de adaptação a um ambiente hostil. Em Santiago do Chile, presenciei um diálogo em que um carioca começava falando em português e não era entendido. O chileno respondia em espanhol. E nada. Até que ambos começaram a dialogar em portunhol – e a coisa fluiu. O portunhol ainda não tem o status de idioma ou dialeto. Ele não é estável nem homogêneo, além de depender do repertório de cada interlocutor. Mas já adquiriu uma personalidade própria. No ano passado, o escritor paranaense Wilson Bueno lançou o romance Mar Paraguayo todinho em portunhol. Bueno considera, com algum exagero, que fez pelo portunhol o que Dante fez pelo italiano – ou seja, formalizou-o literariamente. O livro foi bem recebido em alguns países. No Canadá, houve uma tradução para o “francenglish” – a mistura do francês com o inglês.

“É um língua de errância”, diz Bueno. “Uma língua que se faz ao falar, ao caminhar.” Não há gramática, sintaxe, regra. Por isso, não há erro. Para quem tem autocensura baixa, ainda mais, é facílimo. Segundo o site portunholselvagem.blogspot.com (há centenas de sites portunhóis na internet), para falar portunhol basta trocar “b” por “v”, “o” por “lo” e “a” por “la”. O ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, um defensor ferrenho dessa novilíngua, declarou o seguinte: “O portunhol é uma manifestação espontânea, natural, vinda dos corpos e das almas culturais dos nossos povos”. Traduzindo ficaria assim: “Lo portuñol es una manifestación espontánea, natural, vinda de los cuerpos e de las almas culturais de los nostros pueblos”. Viu como é simples? Não sei se essa é a melhor versão. Mas dá pra se virar na Calle Florida.

Dúvidas cruéis

Os 50 melhores rótulos chilenos e argentinos para comprar lá e beber aqui, beber lá e comprar aqui e vice-versa

De um lado e de outro, a magnífica Cordilheira dos Andes parece vigiar os serenos parreirais. Privilegiados por essa força da natureza que já os protegeu da destruição, os vinhedos do Chile e da Argentina têm mais de um século de história e se transformaram, nas duas últimas décadas, em fonte de vinhos notáveis, apreciados pelo mundo. Plantando variedades, sobretudo originárias da França, os dois países aos poucos criaram sua identidade vinícola e, também, suas uvas emblemáticas: malbec, na Argentina, e carmenère, no Chile. Com elas e outras, integraram-se ao grupo dos poucos países que ousaram enfrentar os seculares vinhos europeus. E com sucesso. Hoje os dois disputam o mercado brasileiro garrafa a garrafa, sabendo que o consumo aqui tem crescido verticalmente nos últimos anos, e também da nossa clara preferência por seus produtos – de cada dez vinhos vendidos no Brasil, praticamente, quatro são chilenos e argentinos. A explicação para essa condição tão favorável não é só a vizinhança mas aponta para a velha equação preço/qualidade. Muitos estudiosos e amantes da bebida de Baco reclamam de uma padronização excessiva dos vinhos de menor preço que não teriam a riqueza aromática, gustativa e a surpresa dos bons europeus. Embora neguem publicamente, os produtores do Novo Mundo sabem que essa busca de certa uniformização existe para habituar o consumidor ao gosto oferecido. O objetivo é conquistar a fidelidade da maioria dos bebedores que não está nem aí aos detalhes. Querem saber se o vinho é gostoso. (Mauro Marcelo Alves)

CABERNET SAUVIGNON

Uva tinta mais difundida no mundo, a francesa cabernet sauvignon encontrou no Chile um verdadeiro paraíso para o desenvolvimento de suas características. Adaptou-se muito bem em solo argentino, também. Ela proporciona ao vinho um estilo forte e encorpado, tânico, excelente para acompanhar os pratos de carne cozida longamente, os grelhados com boa presença de gordura e as massas com molhos vigorosos.

Argentina

Doña Paula Estate 2005 $

Finca La Daniela 2006 $

Chile

Domaine Conté Reserva 2005 $ $

Don Melchor Concha y Toro $ $ $

Santa Helena Siglo de Oro 2006 $

Tres Palacios Family Vintage 2005 $

CARMENÈRE

A uva-símbolo do Chile produz vinhos muito agradáveis, com aroma cheio de frutas maduras e um corpo aveludado, que não provoca travos na boca. Podem ser tomados fora das refeições e, à mesa, saem-se bem com grelhados, carnes cozidas com molhos pouco carregados – de porco, por exemplo – e queijos leves.

Chile

Carmin de Peumo 2005 $ $ $

Terrunyo Concha y Toro 2005 $ $

Viu Manent 2006 $

MALBEC

A variedade quase desapareceu em Bordeaux, na França, para frutificar com força na Argentina. Seus vinhos, generosos e encorpados, com aroma e sabor frutados, corpo bem estruturado e taninos agradáveis, tornaram-se companheiros naturais de churrasco, aves de carne escura, cordeiro e embutidos.

Argentina

Achaval Ferrer 2005 $ $

Andeluna 2006 $ $

Famiglia Bianchi 2005 $ $

Trivento Golden Reserva $ $

Vicente Vargas Videla 2001 $ $

Chile

Secreto Malbec 2006 $ $

Viu Manent Single Vineyard 2006 $ $

MERLOT

Outra espécie originária do sudoeste francês, também encontrou nos vinhedos de nossos vizinhos condições muito favoráveis. Seus vinhos são macios, com aromas vegetais, muito usados em misturas com outros mais fortes, conferindo-lhes maior elegância. Excelente à mesa, a merlot acompanha bem pratos condimentados, aves com molho denso e queijos amarelos.

Argentina

Cava Negra Família Barberis 2006 $

Dante Robino 2006 $

LaGarto Viña Cobos 2005 $

Chile

Tres Palacios Cholqui 2006 $ $ $

Viu Manent 2006 $

SYRAH

Cultivada originalmente no Irã, antiga Pérsia, mais tarde levada ao sul da França e, de lá, a outros países do Novo Mundo, a syrah, ou shiraz, encontrou muita receptividade nas novas pátrias. Seu estilo é potente, alcoólico, com aroma e sabor pronunciados de especiarias, um vinho perfeito à mesa para carnes vermelhas de longa preparação, grandes assados e queijos fortes.

Argentina

Callia Alta 2006 $

Luna Finca La Anita 2002 $ $

Nieto Senetiner 2007 $

Chile

Tabali Reserva 2006 $ $

Tuniche Gran Reserva 2005 $ $

CHARDONNAY

Espalhou-se pelo mundo e ganhou a preferência de milhões de bebedores de vinho com seu aroma e sabor amanteigados, lembrando mel e amêndoa. Vai muito bem com carnes brancas assadas ou grelhadas, como a vitela, com frutos do mar sem molhos fortes e peixes grelhados.

Argentina

Angélica 2004 $ $

Luna Finca La Anita $ $

Chile

Amelia Concha y Toro 2005 $ $

Isla Negra Reserva 2007 $ $

Kankura 2007 $ $

SAUVIGNON BLANC

Produz vinhos alegres com aroma de frutas frescas, como a maçã, sabor com toques minerais e boa acidez. São magníficos à mesa com peixes ao forno, frutos do mar com molhos sofisticados e aves brancas. É também um ótimo aperitivo.

Argentina

Finca La Anita 2006 $ $

Urban Uco Bodegas O. Furnier 2006 $

Chile

Aresti Winemaker’s Collection 2004 $ $

Isla Negra Reserva 2006 $ $

Secreto 2007 $ $

Tres Palacios 2006 $ $

VINHOS DE ASSEMBLAGE

O termo francês é usado para designar a mistura de vinhos de uvas diferentes com o objetivo de atenuar ou ressaltar certas características da variedade principal. O exemplo mais clássico é a adição da merlot para conferir mais maciez à uva cabernet sauvignon. As possibilidades são infinitas e fazem a alegria dos enólogos. É a alquimia particular deles.

Argentina

CABERNET SAUVIGNON/MALBEC - Rutini 2005 $ $

MALBEC/MERLOT/CABERNET SAUVIGNON/CABERNET FRANC - Achaval Ferrer Quimera 2005 $ $ $

MALBEC/MERLOT - Salentein Numina Gran Corte 2003 $ $

MALBEC/CORVINA - Passo Doble 2005 $

Chile

CABERNET SAUVIGNON/CARMENÈRE - Isla Negra 2007 $ $

CABERNET SAUVIGNON/MERLOT/CARMENÈRE - Vernus Santa Helena 2004 $ $ $

CABERNET SAUVIGNON/MERLOT/SYRAH - Zavala Viña Tarapacá 2005 $ $ $

MERLOT/CABERNET SAUVIGNON/CARMENÈRE - Aresti Winemaker’s / Collection 2004 $ $ / Trio Concha y Toro 2006 $ $

ESPUMANTES

A Argentina começou a dar seus passos em direção aos espumantes, elaborando alguns de média qualidade com chardonnay e outras uvas.

Argentina

Alma Negra Brut 2006 $ $

Mumm Brut Cuvée Speciale $

Nieto Senetiner

Brut Nature $

Nocturno $

Onde mora a alma argentina

No futebol, no tango, nos mitos. Nos alfajores, em Borges, nos ventos e no asado...

Boca e River. O mate com biscoitos de grasa. O doce de leite e os alfajores. Mar del Plata. O cavalo criollo. Os gauchos. O Cruzeiro do Sul. As Malvinas, argentinas. Maradona. O gol contra os ingleses de 1986. Che Guevara. O tango de Carlos Gardel, Piazzolla, Troilo, Goyeneche. O asado con achuras: chinchulín, riñones, mollejas, morcilla, chorizos. A Quebrada de Humahuaca. O submarino e o chocolate com churro. As letras de Borges. As minissaias, as mulheres mais lindas do mundo. O paletó azul com calça cinza. O balé de Julio Bocca e Eleonora Cassano. A pintura de Bruzzone, Berni, Castagnino. As empanadas de carne. O locro. As massas de domingo ao meio-dia. Perón, Evita – e também Menem e Kirchner. A Plaza de Mayo, a Casa Rosada, o Cabildo. A Copa de 78. Brasil versus Argentina. O Oscar para La Historia Oficial. O cinema argentino. Os imigrantes, os exilados. A Guerra das Malvinas, a ditadura e os desaparecidos. As mães da Plaza de Mayo. O rock de Charly Garcia, Fito Páez, Spinetta, Leon Gieco. As cataratas. As missões de San Ignacio. A música folclórica de Mercedes Sosa, Zupay e Atahualpa Yupanqui. Os grandes do rádio: Gordo Muñoz, Lalo Mir, Dolina. Os heróis do esporte: Vilas, Fangio, Bonavena, Monzon, Sabattini. Os heróis da pátria: San Martín, Sarmiento, Belgrano, Moreno. O vinho e a genebra. A Cordilheira dos Andes. O céu da Patagônia. Perito Moreno, Ushuaia, os lagos. Bariloche. O Atlântico Sul, a Antártica. Vito Dumas, navegante solitário. As discussões sobre política. As histórias dos motoristas de táxi. O Aconcágua. O Obelisco, La Bombonera, Palermo, Once, o Luna Park. As livrarias e os sebos. O subte, os táxis pretos e amarelos. A pizza, o fainá, a pizza de cebola. Os prêmios Nobel: Lamas, Houssay, Leloir, Milstein, Perez Esquivel. As invenções argentinas: a caneta esferográfica, as pegadas digitais, o colectivo. O humor de Olmedo. Os quadrinhos: Mafalda, Patoruzú, Isidoro, El Eternauta. As vedetes e as divas: Moria Casán, Susana Gimenez, Mirta Legrand. As revistas e os jornais: El Gráfico, Clarín, La Nación, Gente, Caras, Siete Dias, Billiken. Os imigrantes. A inflação, a dívida externa, a dolarização, as crises. A serra de Córdoba. O Rio da Prata, o delta. Corrientes e 9 de Julio. Os ventos: pampero, zonda, sudestada. A psicanálise. A mãe. A amizade. Ir embora da Argentina. Voltar.

Onde é melhor

Argentina - 54

ARGENTINA

NORTE

FICAR - A Praça 9 de Julio é o eixo central de Salta – em seu entorno está boa parte das atrações turísticas, dos restaurantes e hotéis, como o Salta (Calle Buenos Aires, 1, 387/431-0740, hotel salta.com; diárias de $ 205 a $ 740; Cc: todos), que tem quartos com vista para a Catedral Basílica e o Museu Histórico do Norte. A quatro quadras, em frente ao Convento de San Bernardo, fica o Hotel del Antiguo Convento (Calle Caseros, 113, 387/422-7267, hoteldelconvento.com.ar; diárias de $ 190 a $ 330; Cc: todos), com bom custo/benefício e ótimo atendimento. O moderno Alejandro I (Calle Balcarce, 252, 387/400-0000, alejan dro1hotel.com.ar; diárias de $ 350 a $ 1 200; Cc: todos) e o tradicional Sheraton (Avenida Ejercito del Norte, 330, 387/432-3000, starwoodhotels.com; diárias de US$ 135 a US$ 550; Cc: todos) são os cinco-estrelas que disputam o título de hotel mais luxuoso da cidade. Você também encontra boas hospedagens avançando pela Ruta 9 na direção norte. Em Purmamarca, a charmosa pousada Los Colorados (El Chapacal, 388/490-8182, loscoloradosjujuy.com.ar; diárias de $ 290 em cabana para duas pessoas) tem sete cabanas construídas na base do Cerro de los Siete Colores e, como têm o mesmo tom da montanha, parecem fazer parte dela. Na direção oposta, no extremo sul dos Valles Calchaquíes, está Cafayate, cidade da uva torrontés. E é por lá, entre as vinhas da bodega El Esteco (elesteco.com.ar), que fica o Patios de Cafayate (Ruta 40 e 68, 3868/422-229, luxurycollection.com/cafayate; diárias de US$ 280 a US$ 400; Cc: A, M, V), um palacete centenário convertido em hotel e wine-spa.

COMER - Em Salta, prove as empanadas no Doña Salta (Calle Córdoba, 46, 387/432-1921, donasalta.com.ar), que vende a iguaria ($ 1,85 cada uma) nos sabores carne, queijo e frango. O El Solar del Convento (Calle Caseros, 444, 387/421-5124; Cc: M, V) serve a tradicional parrillada e, da alta cozinha do restaurante José Balcarce (Calles Miltre y Necochea, 387/421-1628, cocinadealtura.com.ar; Cc: A, M, V), saem pratos com carne de lhama. Em San Salvador de Jujuy, o Chung King (Calle Alvear, 627, 388/422-8142; Cc: todos), apesar do nome, tem como especialidade pratos regionais, como os tamales ($ 3,50), embrulhadinhos de palha com recheio doce e salgado à base de milho, parecidos com a nossa pamonha. Em Cafayate, prove no El Criollo (Avenida Güemes, 254, 3868/422-093) o saboroso locro ($ 13), sopa de milho, feijão-branco, carne de porco e de boi. Deixe a sobremesa para a sorveteria Miranda (Avenida Güemes, 170, 3868/421-106), que serve helados de vinho cabernet e torrontés ($ 6, dois sabores).

PASSEAR - Salta é o ponto de partida do Tren a las Nubes (387/401-2000, trenalasnubes.com.ar; 4a, 6a e dom: saída às 7h e retorno às 23h; US$ 140, ida e volta, café-da-manhã e almoço incluídos), que liga a cidade ao altíssimo Viaduto La Polvorilla, a 4 220 metros. Após passar três anos fora de funcionamento, o trem voltou aos trilhos no mês passado. Para explorar livremente as atrações próximas a Salta, a pedida é alugar um carro. Se preferir não se preocupar com o caminho, agências como a Ferro Turismo (Calle Buenos Aires, 191, 387/431-5816, ferroturis mo.todowebsalta.com.ar) realizam passeios guiados que duram um dia ($ 185 por pessoa). Em Cafayate, bata o ponto nas bodegas. Na Nanni (Calle Silverio Chavarría, 151, 3868/421-527, bodegananni.com; Cc: M, V), você conhece o processo de fabricação dos vinhos orgânicos e, no fim do passeio, degusta as descobertas. Parte da bodega Encantada (Ruta Nacional 40, Avenida General Güemes, 3868/421-125; Cc: M, V) virou museu, que exibe fotos e máquinas usadas nas vinícolas do século 19. Espalhada por uma área de 300 hectares, a Etchart (Ruta Nacional 40, km 1047, 3868/421-310, vinosetchart.com; Cc: A, M, V) tem vinhos como o torrontés tardio ($ 31), adocicado, ideal para sobremesas e aperitivos.

MENDOZA

FICAR - Para uma hospedagem de primeira, fique no Park Hyatt (Calle Chile, 1124, 261/441-1234, mendoza.park.hyatt.com; diárias de US$ 283 a US$ 2 778; Cc: todos), o melhor da cidade, uma espécie de Copacabana Palace. No mesmo pedaço há outras opções, como o Hotel Argentino (Calle Espejo, 455, 261/405-6300, argentino-hotel.com; diárias de $ 150 a $ 280; Cc: todos), o hotel-butique Villaggio (Calle 25 de Mayo, 1010, 261/524-5200, hotelvillaggio.com.ar; diárias de $ 370 a $ 410; Cc: A, M, V) e o Ritz (Calle Peru, 1008, 261/423-5115, ritzhotelmendoza.com.ar; diárias a $ 250; Cc: todos), pomposinho e completo. Para ficar longe do burburinho, a 15 km de Mendoza está o Finca Adalgisa (Calle Pueyrredón, 2222, Chacras de Coria, 261/496-0713; fincaadalgisa.com.ar; diárias de US$ 235 a US$ 390; Cc: A, M, V), onde os quartos estão espalhados pela propriedade, seja no casarão, seja em chalés, e são diferentes entre si. A diária inclui degustação de vinho e passeios de bicicleta. Ainda no turismo rural, o Cavas Wine Lodge (Costa Flores, Alto Agrelo, 261/410-6927, cavaswinelodge.com; diárias de US$ 400 a US$ 500; Cc: A, M, V) tem 14 chalés amplos de arquitetura colonial, todos com pátio privativo, piscina e vista para os Andes.

COMER - O sofisticado Bistrô M (Calle Chile, 1124, 261/441-1234, mendoza.park.hyatt.com; Cc: todos), no lobby do Park Hyatt, serve pratos da cozinha francesa com influência de ingredientes regionais. As melhores massas artesanais estão no Francesco (Calle Chile, 1268, 261/425-3912, francescoristorante.com.ar; Cc: A, M, V). No almoço, aproveite os bons restaurantes das vinícolas. Quem reserva visita ao Clos de Los Siete (Calle Clodomiro Silva, Vista Flores, 261/425-688, clos7.com.ar; Cc: M, V) pode degustar os vinhos de lá durante uma refeição típica criolla ($ 65). Dentro dos domínios da vinícola O. Fournier, o restaurante Urban (Calle Los Indios, La Consulta, 2622/451-579, ofournier.com; Cc: A, M, V) faz interpretações da cozinha argentina com influência mediterrânea nos seis pratos do menu fixo ($ 85). O 1884 (Calle Belgrano, 1188, Godoy Cruz, 261/424-2698, escorihuela.com; Cc: A, M, V) serve pratos do badalado chef Francis Malmann em um lindo casarão nas instalações da bodega Escorihuela.

PASSEAR - Para fazer um roteiro pelas vinícolas, o melhor é procurar uma agência que conjugue tour e transporte. Em Mendoza, a Grupo Sur (Calle 25 de Mayo, 1339, 261/423-8338, grpsur.com) e a Ampora Wine Tours (Peatonal Sarmiento, 647, 261/429-2931, men dozawinetours.com) têm passeios ($ 135) com visitas a três ou quatro bodegas num mesmo dia. Os enoturistas independentes podem alugar um carro e percorrer as vinícolas de Lujan de Cuyo e Maipú. Mas reserve com antecedência ou corra o risco de ficar do lado de fora. Quem deseja ir além das garrafas pode agendar passeios radicais, como rafting, parapente, trekking, excursões pela Puente del Inca, pelo Lago Horcones e base do Aconcágua, ou até uma expedição para escalar a montanha (só aos iniciados, claro!). As agências Aymará (Calle 9 de Julio, 1023, 261/420-2064, aymara.com.ar) e Campo Base (Peatonal Sarmiento, 229, 261/425-5511, campobaseadventure.com) são especializadas em roteiros de aventura. Os passeios de dois dias (desde $ 450, com hospedagem, traslado e guia) para o Cordón del Plata são organizados pela Cordón del Plata (Avenida Las Heras, 341, 261/423-7423, cordondelplata.com).

COMPRAR - Para vinhos e acessórios, a Alpataco Vinos & Cueros (Peatonal Sarmiento, 184, 261/429-7386, alpatacoweb.com.ar) tem os melhores rótulos, como Las Hormigas, Catena Zapata, Doña Paula e Achával-Ferrer.

PATAGÔNIA

FICAR - Bariloche tem mais de 100 hotéis espalhados pelas ruas ao redor do Centro Cívico e na extensão da Avenida Bustillo – justamente onde está o estiloso Design Suítes (km 2,5, 2944/457-000, designsuites.com; diárias de US$ 175 a US$ 310; Cc: A, M, V). As suítes têm janelas amplas, mas a grande vedete é a piscina climatizada que se funde com a paisagem. Para ter vistas espetaculares ficando próximo do centro, hospede-se no Cacique Inacayal (Calle Juan Manuel de Rosas, 625, 2944/433-888, hotelinacayal.com.ar; diárias de US$ 258 a US$ 295; Cc: todos), quase debruçado no Lago Nahuel Huapi. Do lado da Patagônia Atlântica, o Las Restingas (1a Bajada al Mar y Ribera Marítima, 2965/495-101, lasrestingas.com; diárias de US$ 201 a US$ 264; Cc: A, M, V) é o único de frente para o mar em Puerto Pirámides. É só abrir as cortinas para ver, ao longe, as baleias-franca. Mas a infra-estrutura da região se concentra na vizinha Puerto Madryn. Inaugurado em 2006, o hotel-butique Território (Boulevard Almirante Guillermo Brown, 3251, 2965/470-050, hotel territorio.com.ar; diárias de US$ 198 a US$ 394; Cc: A, M, V) é o mais moderno da cidade. Em El Calafate, é possível ficar dentro do Parque Nacional Los Glaciares – de cara para o Perito Moreno – na pousada Los Notros (2902/499-511, los notros.com; diárias de US$ 1 287 a US$ 2 054 para estadia mínima de duas noites, com pensão completa; Cc: A, M, V). Bem mais em conta, a Hosteria Kau Kaleshen (Calle Gobernador Gregores, 1256, 2902/491-188, losglaciares.com/kaukaleshen; diárias a $ 275), no centro, serve chás e doces caseiros. Em Ushuaia, fique no simpático Tierra de Leyendas (Calle Tierra de Vientos, 2448, 2901/443-565, tierradeleyendas.com.ar; diárias de US$ 119 a US$ 189; Cc: A, M, V), onde os quartos deluxe têm vista para o Canal de Beagle, além de banheiros com jacuzzi e ducha escocesa.

COMER - Mesmo com 200 restaurantes em Bariloche, é difícil não ir ao Familia Weiss (Calle Vice Almirante O’ Connor, 404, 2944/435-789, ahumaderoweiss.com; Cc: todos), o mais tradicional, que serve a picada de ahumados ($ 38 para duas pessoas), uma tábua de degustação, com carnes selvagens da região, salmão, patês e queijos. Em Puerto Madryn, aproveite o mar logo ali e prove os peixes e mariscos do Mar y Meseta (Avenida Gales, 36, 2965/458740, maryme seta.com.ar; Cc: A, M, V) e do Taska Beltza (Calle 9 de Julio, 345, 2965/457-403; Cc: M, V). Em Gaiman, uma cidadezinha de origem gaulesa, há casas de chás com mesas repletas de pães, tortas e scoons (biscoitos salgados). Na Ty Gwyn (Calle 9 de Julio, 111, 2965/491-009; $ 35 por pessoa), um simpático cachecol de lã colorida envolve o bule para mantê-lo quente. Para comer bem em El Calafate, vá ao Casimiro Biguá (Avenida del Libertador, 963, 2902/492-590, casimirobigua.com; Cc: A, M, V), que tem duas unidades: enquanto o El Restaurante serve peixes, risotos e massas, o La Parrilla tem bons cortes de carnes argentinas e pratos como o cordero patagónico ($ 44). Experimente o sorvete do fruto azedo e lilás que dá nome à cidade na Heladería Acuarela (Avenida del Libertador, 1179, 2902/491-315). Ushuaia conta com ótimos restaurantes, como o Chez Manu (Avenida Fernando Luis Martial, 2135, 2901/432-253, chezmanu.com; Cc: A, M, V), que mistura a tradição européia aos ingredientes da Terra do Fogo. Experimente o coelho com molho de cogumelos ($ 40). O Kaupé (Calle Roca, 470, 2901/422704, kaupe.com.ar; Cc: A, M, V) tem pratos elaborados com centolla, um saboroso caranguejo gigante.

PASSEAR - Em Bariloche, no verão, os aventureiros podem fazer rafting ($ 240) no Rio Manso. No traslado até o local do passeio, organizado pela Rio Manso Expediciones (Calle O. Runge, 850, 2944/433-260, riomansoexpediciones.com), aproveite para admirar os imponentes lagos Gutierrez, Mascardi e Guillelmo. Por terra, veja de perto o Glaciar Ventisquero e o Cerro Tronador no trekking de um dia ($ 94) da Tronador Turismo (Calle Quaglia, 283, 2944/425644, tronadorturismo.com.ar). De junho a dezembro, a Hydrosport (1a Bajada al Mar, 2965/495-065, hydrosport.com.ar), em Puerto Pirâmides, tem saídas regulares de lancha pelo Golfo Novo ($ 100). Já a Flamenco Tour (Avenida Julio A. Roca, 331, 2965/453-275, flamencotour.com) organiza passeios à Punta Tombo. Em El Calafate, os turistas podem caminhar na superfície do Perito Moreno com a Hielo y Aventura (Avenida del Libertador, 935, 2902/492-094, hie loyaventura.com). Os experientes devem encarar o roteiro até o pico do Cerro Fitz Roy (US$ 1 455 com equipamento e refeições), que dura oito dias da Fitz Roy Expediciones (Calle San Martín, 56, El Chaltén, 2962/493-017, fitzroyexpediciones.com.ar). Em Ushuaia, as trilhas do Parque Nacional Terra do Fogo (Calle San Martin, 1395, 2901/421-315, parquesnacionales.gov.ar; entrada a $ 30) passam por bosques de lenga e turbales, que só existem em ambientes úmidos e frios. Outro jeito de percorrer o parque é a bordo do Trem do Fim do Mundo (Ruta 3, km 3042, 2901/ 431-600, trendelfindelmundo.com.ar; $ 60 ida e volta). Para passeios no Canal de Beagle, procure a Catamaranes Canoero (Calle Los Ñires, 3038, 2901/445-960, catamaranescanoero.com.ar).

Onde mora a alma chilena

Em Neruda e Mistral, nas estrelas, nos extremos. E nas empanadas, na carmenère, nos ostiones...

Do aeroporto a Santiago já não se demora uma hora. Em 15 minutos o táxi segue direto por uma autopista flamejante até o centro. O Rio Mapocho correndo ao lado, e até por cima. O edifício mais alto da América Latina e os que vêm se levantando no Bosque Norte. O metrô, excelente, e a montanha nevada se o dia permitir. Velocidade. O smog, quase paulistano, porque nem sempre tudo é maravilhoso. Chile, alto e magro, desde o deserto mais seco do mundo, ao norte, aos fiordes fueguinos no extremo austral, é o país com melhor qualidade de vida da América Latina e também de maior desigualdade social. Desde que voltou à democracia, e com a ajuda do cobre, baixou a inflação e reduziu a pobreza. As exportações quadriplicaram e os investimentos estrangeiros cresceram. Cobre e democracia são a síntese do país de Violeta Parra e Victor Jara. Você poderá ir ao norte lendo Hernán Riviera Letelier. Ao centro, Antonio Scármeta. Ao sul, Luis Sepúlveda. No Vale do Elqui você estará sob o céu mais límpido do mundo, o mesmo que amparou Gabriela Mistral, ao pé dos Andes. Companhias. Ali você verá como se elabora o pisco sour, bebida nacional, prima em primeiro grau da caipirinha. Mais ao norte: o deserto (florido durante a primavera), o salar e os gêiseres, no Atacama. Olhando para baixo: Valdivia e seus lagos maravilhosos, Frutillar, Puerto Varas. A Ilha de Chiloé com suas pitorescas 16 igrejas de madeira, Castro, Chonchi e o Porto de Ancud. Jaibas, ostras e o curanto, prato nacional com picoroco e carne de porco. Mais ao sul, os fiordes e as Torres del Paine. As ilhas – a de Páscoa e a de Robinson Crusoé, que, na verdade, se chama Juan Fernández. Nas pistas de esqui de Valle Nevado ou nas Termas de Chillán, quando nevar, você cruzará com compatriotas. Conselhos. Nos vales centrais, pegue a Ruta del Vino e não perca o carmenère. Nem as centollas e os ostiones. Os locos e as machas. Ou os pasteles de choclo e as humitas, outro nome para a pamonha. As empanadas, por supuesto. E o caldillo de congrio, que virou ode nas mãos de Pablo Neruda, aquele que escreveu “Queda prohibido no buscar tu felicidad”. Será nas casas de Neruda que seu caminho ficará marcado. Em Isla Negra, que não é ilha, você vai conhecer as excentricidades do poeta. Em La Chascona, subirá o morro que domina a cidade ou caminhará até o bairro mais boêmio da capital. Desde La Sebastiana, em Valparaíso, você descobrirá a melhor vista do grande porto, Viña del Mar, Reñaca, Con-con e – mais longe e mais bonita – Zapallar. Inspiração. Por todo o país, de Aricas a Punta Arenas, serão 5 mil quilômetros de poesia, sabores e descobertas. Queda prohibido... ir sem voltar um dia. Ya.

Onde é melhor

Chile - 56

CHILE

ATACAMA

FICAR - San Pedro de Atacama deixa claro que isolamento não é desculpa para hotéis meia-boca. Além do já clássico Explora (Ayllú de Larache, Domingo Atienza, 2/206-6060, explora.com; pacotes de no mínimo três diárias, desde US$ 1 773, com transfer, passeios e refeições; Cc: todos), há alternativas, como o novo Tierra Atacama (Camino Sequitor, Ayllú de Yaye, 55/555-977, tierraatacama.com; pacotes de no mínimo duas diárias, desde US$ 1 390, com transfer, refeições e passeios; Cc: todos), que tem todos os quartos com terraço e vista para o Vulcão Licancabur. Ou o exclusivo hotel-butique Awasi (Calle Tocopilla, 4, 55/851-460, awasi.cl; duas diárias, desde US$ 2 000, com transfer, refeições e passeios; Cc: todos), com oito lindas cabanas que possuem ducha exterior em solário particular. Bem central e mais em conta, o Kimal (Calle Domingo Atienza, 452, 55/851-030; diárias a US$ 160; Cc: todos) tem quartos com terraço. Na Calle Tocopilla também há opções equivalentes, como o Lodge Terrantai (no 411, 55/851-045, terrantai.com; diárias de US$ 116 a US$ 250; Cc: todos).

COMER - O Restaurante Blanco (Calle Caracoles, 195, 55/851-939, blancorestau rant.cl; Cc: todos) serve pratos contemporâneos com combinações agridoces, como o tempura de vegetais e mariscos ao molho de framboesa ($ 8 500). No mesmo endereço, vá ao La Casona (55/851-004; Cc: todos) provar a culinária regional.

PASSEAR - No centro de San Pedro Atacama, o Museu Arqueológico Gustavo Le Paige (Calle Gustavo Le Paige, 380, 55/851-002, ucn.cl/museo; entrada a $ 2 000) tem uma coleção de objetos da cultura atacamenha e pré-colobiana, povos que já habitaram o árido deserto. A Atacama Connection (Calle Caracoles y Toconao, 55/851-421, atacamaconnection.com) tem passeios diários à maioria das atrações, como o Salar ($ 10 000) e o Vale da Lua ($ 5 000). Já a Cactus Tour (Calle Domingo Atienza, 419, 55/851-534, cactustour.cl) leva os turistas aos Gêiseres del Tatio ($ 11 000) e às Lagunas Altiplánicas ($ 35 000). Para dar um alívio à pele depois de tanto sal y sol relaxe nas Termas de Puritama ($ 5 000).

NORTE CHICO

FICAR - Para ficar perto das belezas praianas da Ruta 5 e do Pan de Azúcar, escolha a cidade Bahia Inglesa como sede. Lá, o Hotel Rocas de Bahía (Avenida El Morro, 888, 52/316-005, rocasdebahia.cl; diárias a $ 61 800; Cc:todos) tem quartos bem confortáveis e fica dentro do balneário. As cabanas espaçosas do Jardines de Bahía Inglesa (Calle Copiapó, 100, 52/315-359, jardinesbahia.cl; diária a US$ 75; Cc: todos) são boas para famílias – a piscina e o salão de jogos mantêm a criançada ocupada. Após percorrer os 900 km de estrada desde Antofagasta, descanse em La Serena, o ponto final do percurso. O Campanario del Mar (Avenida del Mar, 4600, 51/245516, hotelcampanario.cl; diárias de US$ 105 a US$ 123; Cc: todos) fica a um passo das águas do Pacifico.

COMER - O El Domo (Avenida El Morro, 610, 52/316-168, changochile.cl; Cc: todos), na Bahía Inglesa, tem cozinha autoral com receitas de frutos do mar, servidas sob um domo de lona e plástico. Em La Serena, o sucesso do Resto-Bar Huentelauquén (Avenida del Mar, 4500, 51/233-707, pizzeria-huentelauquen.cl; Cc: todos) é o “ingrediente secreto” de suas pizzas – um queijo feito no povoado de Huentelauquén, 200 km ao sul da cidade.

PASSEAR - O itinerário por Norte Chico começa em Antofagasta, a 1 361 km de Santiago. De lá, pela Ruta 5, chega-se, após 402 km, a Chañaral, porta de entrada ao Parque Nacional Pan de Azúcar (ingresso a $ 2 000). A agência Galeón (52-9/743-0011, galeon.com/pinguitour) vai de lancha à ilha que tem o mesmo nome do parque. De volta à Ruta 5, através de um desvio por Caldera, chega-se à Bahía Inglesa, dona de praias com água azul-turquesa. Mais 250 km em direção ao sul fica Punta Choros, de onde partem barcos para a Isla Damas – negocie o passeio com os guias da região. Em La Serena, a Lancuyén (Calle O’Higgins, 336, 51/214744, turismolancuyen.cl) tem tours de um dia.

VALE DO COLCHAGUA

FICAR - Cercado por vinhedos, o Parador de la Viña (Camino los Boldos, Barreales, Santa Cruz, 72/825-788, paradordelavina.cl; diárias a US$ 90, Cc: todos) tem um gramado bem convidativo para uma soneca e é considerado um dos melhores bed & breakfast do mundo. Mais afastado, o Casa Silva (Hijuela Norte, San Fernando, 72/710-180, casasilva.cl; diárias de US$ 205 a US$ 400; Cc: todos) tem quartos luxuosos e clima colonial. No mesmo estilo, o Hotel Santa Cruz Plaza (Plaza de Armas, 286, Santa Cruz, 72/209-600, hotelsantacruzplaza.cl; diárias de US$ 235 a US$ 480; Cc: todos) é o mais conhecido da região e fica no centro. Já no Clos Apalta Winery & Lodge (Camino Apalta, km 4, Santa Cruz, 72/321-803, casalapostolle.com; diárias a US$ 600, com tour e degustação privativa; Cc: todos), cada casita leva o nome de uma cepa de uva.

COMER - Um dos melhores restaurantes do Chile, o La Casita de Barreales (Camino Barreales, Santa Cruz, 72/824-468; Cc: todos) tinha de ser... peruano. Peça um ceviche de entrada e delicie-se com os pratos de frutos do mar. O jantar para um casal, com vinho da região, custa cerca de US$ 40. O Aromas de Colchagua (Camino Isla de Yaquil, Los Boldos, Santa Cruz, 72/821-182; Cc: todos) tem excelente carta de vinhos e pratos saborosos, como o congrio a la plancha (US$ 12). Já o restaurante do hotel Santa Cruz, Los Varietales (Plaza de Armas, 286, Santa Cruz, 72/209-600, hotelsanta cruzplaza.cl; Cc: todos), tem à frente o chef Hernán Hernández e serve cozinha chilena sofisticada.

PASSEAR - Uma forma divertida de conhecer o Colchagua é embarcar no Trem do Vinho (2/470-7403, trendelvinochile.cl; US$ 107), que parte de San Fernando e vai até Santa Cruz. O trem é antigo, estilo maria-fumaça, porém impecável e charmoso. Além disso, tem serviço de bordo excelente. De Santa Cruz saem ônibus para diferentes vinícolas. Opção é ficar na cidadezinha e visitar o Museu de Colchagua (72/821-050, museocolchagua.cl). A coleção privada tem em seu acervo peças pré-históricas, insetos conservados no âmbar, ferramentas e utensílios de povos primitivos de diferentes regiões da América Latina. Ao fim do dia, o retorno é feito em ônibus.

COMPRAR - Depois de entender mais do assunto vendo parreiras, tanques de fermentação e barris de carvalho (e degustando, claro!), é hora de levar para casa sua botella de vino preferida. A maioria das vinícolas tem uma pequena loja na saída. Aproveite!

PATAGÔNIA

FICAR - Pucón tem hospedarias confortáveis com bons preços, como a Malalhue (Camiño Internacional, 1615, 45/443-130, malalhue.cl; diárias de US$ 79 a US$ 98; Cc: todos), que parece um grande chalé alpino. Em Castro, o Unicórnio Azul (Avenida Pedro Montt, 228, 65/632-359, hotelunicornioazul.cl; diárias a $ 32 000; Cc: M, V) tem quartos espaçoso e vista para a baía. A dez minutos do centro, a Hotelera del Mirador (Ruta 5 Sur, km 9, 65/633-958, hoteleradelmirador.cl; diárias a $ 35 000) tem cabanas espalhadas por um belo mirante. O mais novo hotel de luxo de Puerto Natales é o Remota Patagonia (Ruta 9 Norte, km 1,5, 61/414-040, remota.cl; diárias desde US$ 1 548 para estadia de no mínimo três noites, com pensão completa; Cc: todos), a estilização extrema de um galpão de fazenda patagônica. Outra experiência é ficar em estâncias da região, como a Tres Pasos (km 38 Norte, entre Puerto Natales e Paso Fronterizo Rio Don Guillermo, 61/245-494, hotel3pasos.cl; diárias a $ 74 000; Cc: M, V). Já o Puyuhuapi Lodge & Spa (Bahía Dorita, 67/325-103; patagonia-connection.com; diárias de $ 75 000 a $ 175 000, com transfer; Cc: todos), na Baía Dorita, é uma charmosa opção e de onde sai o catamarã para a Laguna de San Rafael. O melhor hotel de Punta Arenas é o José Nogueira (Calle Bories, 959, 61/711-000, hotelnogueira.com; diárias de US$ 119 a US$ 179; Cc: todos), estruturado dentro do edifício de uma mansão neoclássica.

COMER - Renda-se às refeições recheadas de frutos do mar. O Alta Mar (Calle General Urrutia, 315, 45/442-294; Cc: todos) é o melhor de Pucón nessa especialidade. O espanhol Puerto Pucón (Calle Fresia, 246, 45/451-592; Cc: A, M, V) serve uma paella mista ($ 7 500) com mariscos do Pacífico. Em Castro, no Don Octavio (Avenida Pedro Montt, 261, 65/632-855), o carro-chefe é a pescada a la plancha ($ 4 000). Já em Ancud, o Kuranton (Calle Arturo Pratt, 94, 65/623-090; Cc: M, V), como o nome diz, serve o tradicional curanto ($ 6 000). Puerto Natales também tem sua pedida obrigatória: o cordeiro grelhado ($ 9 350) do Paine, no hotel CostAustralis (Calle Pedro Montt, 262, 61/412-000, ho teles-australis.com; Cc: todos). Em Punta Arenas, prove peixes frescos no Remezón (Avenida 21 de Mayo, 1469, 61/241029; Cc: todos), próximo ao Estreito de Magalhães.

PASSEAR - Para chegar ao cume do Vulcão Villarrica, contate as agências de Pucón. Uma delas, a Politur (Avenida O’Higgins, 635, 45/441-373, politur.com), vende pacote de escalada, com equipamento, guia e transfer ($ 48 000). e também organiza caminhadas no Parque Nacional Huerquehue. Para os passeios no Lago Calafquén, negocie com os donos dos caiaques na beira do lago. O Parque Nacional Chiloé (entrada $ 1 000), a 24 km de Castro, é um programa imperdível. Roteiros a pé, de barco e a cavalo podem ser feitos, mas os serviços de guia devem ser contratados em agências fora do parque. A trilha mais bacana é a que liga as praias de Chanquín e Cole-Cole: tem 20 km e dura 5 horas. Um site útil é o torresdelpaine.com, que lista as principais agências de Puerto Natales e Punta Arenas no local.

O essencial

COMO CHEGAR

A melhor tarifa para Buenos Aires é a da Pluna (11/3231-2822, pluna.aero), desde US$ 277. Na Aerolineas Argentinas (0800-7073313, aerolineas.com.ar), custa desde US$ 299. Para Santiago, a Varig (4003-7000, varig.com.br) voa por US$ 599. A Lan (0800-7610056, lan.com) também cobre os dois destinos: Buenos Aires desde US$ 443 e Santiago desde US$ 707. A partir das capitais, dá para seguir em avião ou ônibus. A depender do tipo de viagem, alugar carro pode ser uma boa (leia em Transporte).

QUEM LEVA

Para conhecer vários destinos de uma vez só, prefira operadoras que montam pacotes combinados. A Highland (11/3254-4999, highland.com.br) tem oito noites, passando por Salta e Atacama, desde US$ 2 990, sem aéreo. Na New Age (11/3138-4888, newage.tur.br), três noites em El Calafate e três em Buenos Aires saem desde US$ 1 245. Na CVC (11/2191-8911, cvc.com.br), três noites em Santiago, duas em Puerto Varas, uma em Peulla e três em Buenos Aires custam desde US$ 2 348. A Landscape (11/3039-8210, landscape.com.br) leva por nove noites, passando por Buenos Aires, Ushuaia e Torres del Paine, desde US$ 2 274. Para vinhos, o roteiro da RCA (11/3017-8700, rcaturis mo.com.br), de três noites em Mendoza, por US$ 975, é uma boa. Do lado chileno, a Maktour (11/3818-2222, maktour.com.br) tem pacote de duas noites em Santiago, uma em Santa Cruz e uma em Curicó, com visita ao Colchagua, desde US$ 1 275. E, para quem quer ir mais longe, a Terra Mater (11/3464-5100, terramater.com.br) tem cruzeiro de dez noites à Antártica, saindo de Ushuaia, desde US$ 3 400, sem aéreo. Operadoras, como Climb (11/5052-6305, climb.tur.br), Calcos (0800-7255800, calcos.com.br), Expedition (11/3253-2128, expedition.cl), Vivaterra (11/3258-2651, vivaterra.com.br), Natural Mar (11/3214-4949, naturalmar.com.br) e Fênix (11/3120-7200, fenixtur.com.br) montam roteiros personalizados. Consulte também seu agente de viagens.

DINHEIRO

É simples trocar reais por pesos locais nos bancos e nas casas de câmbio dos dois países. Mas hoje é melhor sair do Brasil com dólares, que têm boa taxa de câmbio. Na Argentina, R$ 1 vale $ 1,92, e US$ 1, $ 3,04. No Chile, R$ 1 vale $ 323, e US$ 1, $ 512 (cotações da primeira quinzena de agosto).

QUANDO IR

O inverno é bom para viajar pelo norte dos dois países: as chuvas são menos freqüentes, e a temperatura, amena. Na Patagônia, quem quer fazer trekking ou aproveitar os lagos deve ir na primavera ou no verão, entre outubro e fevereiro. Na Península Valdés, as baleias dão o ar da graça entre junho e dezembro. Nas regiões vinícolas, a alta temporada vai de dezembro a março: os preços sobem, mas a paisagem fica linda com as uvas já tintas – e dá para colhê-las nas vinícolas entre fevereiro e abril.

TRANSPORTE

Buenos Aires fica longe de Salta (1 497 km ao norte) e Ushuaia (3 260 km ao sul), então é melhor ir de avião. Na Aerolineas Argentinas (0800-7073313, aerolineas.com.ar), os bilhetes de ida e volta custam US$ 524 e US$ 532, respectivamente. Para ir de ônibus, o site tebasa.com.ar lista as empresas que operam a partir da capital. Com tempo, vale a pena ir de carro. Na Avis (11/2155-2847, 0800-7252847, avis.com.br), um modelo econômico por sete dias, com quilometragem livre e seguro, sai por US$ 408. No Chile, o território extenso e estreito demanda semanas para que o turista o conheça de norte a sul. Por isso, algumas cidades pequenas têm aeroporto, como Punta Arenas, em que há vôos diários da LAN (0800-7610056, lan.com) desde Santiago (US$ 790, ida e volta). As estradas principais têm vias asfaltadas e bem conservadas; as secundárias alternam trechos de cascalho e terra batida. Além disso, no inverno, algumas rotas podem fechar. As empresas de ônibus Pullman (56-02/550-5200, pullman.cl) e Tur Bus (56-02/490-7500, turbus.cl) percorrem todo o país. Para encarar a viagem de carro, a Hertz (11/2246-4300, 0800-7017300, hertz.com.br) cobra US$ 390 por sete dias de um modelo econômico.


 
Copyright © 2009, Editora Abril S.A.
Todos os direitos reservados. All rights reserved.